sexta-feira, 27 de maio de 2011

ODE A NONATO - o ato cristão, sob a otica do dialogismo


ZAQUEU, BAKHTIN E O ATO CRISTÃO

A história de Zaqueu está narrada no Evangelho de Lucas 19. Neste ensaio, revisito este texto sob a ótica do pensamento bakhtiniano, especificamente, naquilo que se refere à filosofia do ato.



Bíblia - O Evangelho das imagens
In: http://snpcultura.org/id_a_primeira_palavra.html#2009_12_30
Secretariado nacional da PASTORAL DA CULTURA

O primeiro destaque vai para o autor do texto biblico, o gentio Lucas, companheiro de Paulo em suas viagens missionárias, e famoso pelo zelo na “apuração dos fatos” que descreve. Ele não pertence ao círculo judaico que narra nesse episódio. Contém, entretanto, o “excedente de visão” bakhtiniano, pois sabe mais do que seus personagens; escreve olhando para trás, com a bagagem hermenêutica de um Paulo de Tarso (o judeu de cultura helênica mais famoso da Bíblia).

Lucas descreve o encontro de Jesus com um judeu chamado Zaqueu, sob os olhares de outros judeus, não muito afeitos a Jesus e seus ensinos. A cena muito nos ensina sobre o “ato cristão”. Vejamos:

Se Lucas é "consciência de uma consciência", como Bakhtin define o autor-criador, a passagem só pode ser percebida com o desvendamente das vozes polifônicas:

Zaqueu representa um judeu “que se deu bem na vida”, inclusive, tirando vantagem de seus compatriotas. Sua profissão, a de coletor de impostos para o governo romano, deu-lhe segurança financeira e rendeu-lhe, também, o ódio e o desprezo de seus pares. Essa vivência fora de sua “territoriedade” social fazia de Zaqueu um homem infeliz.

Jesus representa a consciência messiânica, que traz ordem ao caos social e, principalmente, individual. Sua fama era tal, que Zaqueu não mediu esforços para, de alguma forma, fruir esse “outro” que é Jesus. Naquele momento, o outro era a resposta pretendida para organizar sua vida interior. Zaqueu o faz “de longe”, do alto de um sicômoro, obviamente, por causa dos “outros” olhares indignados à sua volta.

A multidão composta de judeus faz parte da narrativa, porque Lucas precisa identificar para os leitores a “consciência” judaica de organização social, que excluía gentios, mulheres, crianças e homens com profissões desprezíveis, como a de Zaqueu. Uma “consciência” que seria superada pelo ato cristão.

Continua...














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