IN AETERNUM
Por Davi Freitas de Carvalho, pastor da IBVJ (pseudopoeta
nas horas vagas, que são muito poucas)
Inspirado no poema “Da construção de obras duradouras”
de Bertoldo Brecht, e guardando uma forte relação com segunda versão de
“Coragem do poeta”, de Hölderlin
Diante da imensa catedral,
labirinto de paredes e pátios,
de quintais, muros e plantas,
refletia o ancião, cabisbaixo...
“Quanto tempo levara a construção?”
Perguntava-se em singela admiração,
enquanto pensava na vida.
Experiências passadas de benesses e danos,
mais recordações do
que há em mil anos,
na igreja, ainda infante,
quando jovem, decisivo participante,
na gravidade da vida,
o homem sentia como se de nada valesse a corrida.
Lembrou-se da mãe,
de suas palavras, sábias palavras,
ditas no interior da edificação que contemplava:
-- Filho querido, viver para Deus dará à sua vida sentido.
E são coisas vivas as palavras
exalando a esperança
do corpo que as sussurrou
nos seus últimos suspiros
de que o menino não se deixaria ruir
diante do destino trágico e da dor,
da solidão provocada, do desamor,
e avançaria inerme
através da vida, sem nada recear!
"Quanto tempo levara a construção?"
Insistia em perguntar-se,
olhando a suntuosa edificação.
"As obras duram tanto quanto seu alicerce
permitir",
redarguiu, resgatando na memória uma parábola de Jesus.
"Areia!..." Exclamou, num suspiro,
debatendo com a consciência
o motivo de sentir
o coração penetrar soturnamente o crepúsculo
"Foi sobre a areia que construí minha vida!"
Néscio proceder,
ouvir a voz divina
sem prestar-lhe a devida atenção.
Insensato comportamento,
rebelar-se contra a vontade do Criador, Senhor e Rei,
que num gesto abnegado
entregou-se pela grei.
"Areia! Foi sobre a areia que construí minha
vida!", gritava a consciência,
entre as ruínas persistentes daquele chão
onde agora as vozes apagadas
apenas sussurram em vão,
por ter descido a chuva, e corrido rios, e assoprado ventos,
e combatido a casa,
que caiu, e ter sido grande a sua queda.
"Poderia o Senhor reconstruir a minha casa,
edificando-a sobre a rocha?"
Perguntava-se, num gesto de angústia, a decrépita figura,
levantando o olhar para o céu.
"Rocha!" Clamava, em prantos, àquela altura,
diante da catedral, a alma aflita:
"Quero edificar minha vida sobre a rocha! Pois as obras
duram tanto quanto seu alicerce permitir!"
Sábio proceder,
ouvir a voz divina
e prestar-lhe a devida atenção.
Prudente comportamento
fazer a vontade do Criador, Senhor e Rei,
que num gesto abnegado
entregou-se pela grei.
"Rocha! É sobre a rocha que desejo construir minha
vida!",
gritava a consciência,
limpando as ruínas antes existentes
daquele chão
onde agora as vozes da alegria
ecoam no louvor dos seres angelicais,
por ter descido a chuva, e corrido rios, e assoprado ventos,
e combatido a casa,
que resistiu, e não ruiu,
pois estava edificada sobre a rocha que é Jesus.
Naquele instante de fé,
de firme decisão,
Deus acabara mais uma construção,
pois cumpriu sua promessa de ser, em Cristo,
in aeternum, a
Rocha da Salvação.
Exaltado seja Deus, que vive e é bendito, para sempre, amém!
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